Na semana passada perguntei no twitter se alguém queria sugerir um tema para a crônica da semana, porque eu estava sem ideias. Mas a verdade é que estava mesmo sem expediente para ter ideias. Não podia culpar um bloqueio criativo ou coisa do tipo, afinal não tinha parado mais do que cinco minutos pensando um bom tema ou tentando escrever algo. Queria uma ideia alheia, assim era só abrir as notas do celular, que é onde escrevo minhas crônicas (acreditem se quiser), e tentar desenvolver algum conceito torto e criativo o suficiente para a próxima segunda-feira.
Quando vou escrever, costumo parar quieta em algum lugar e pensar por uns 10 ou 15 minutos, até que me venha um tema que parece bom e aí começo. Claro que às vezes acontece de o tema vir do nada, mas é mais raro. Depois que escolhi sobre o que falar, a coisa não é difícil, afinal escrever crônica não exige muito compromisso. Você pode abandonar o tema inicial a qualquer momento. Pode falar de várias coisas em uma crônica só. Pode falar sobre nada e sobre não ter nada a dizer.
Então o que se passou na última semana não foi um terrível e maligno bloqueio criativo, mas sim nada mais nada menos que um pouco de preguiça, coisa a qual todos temos direito e que eu uso com bastante frequência.
Recebi algumas boas sugestões e escolhi a que me pareceu mais fácil. Não por questões de complexidade, mas aquela que olhei e já me veio assim uma ideia ou outra, uma frase de efeito, um bordão para utilizar.
A sugestão escolhida, que veio de minha amiga Jasmine, foi bloqueio criativo, que seria aquele branco que bate na gente, aquele falta de ideias misturada com ausência de ânimo, a famosa empacada. Estou escrevendo, produzindo, criando, trabalhando... De repente não vai mais. Travou. Pode ser na hora de escolher um título, desenvolver o clímax, concluir a história. Falta de inspiração? Problemas de criatividade? Medo? Síndrome do impostor? Cansaço? Bolson*ro? Uma ida ao mercado? A conta de luz? Tudo isso e muito mais no Brasil de 2021.
Acredito que compreensão não falta para quem sofre com bloqueio criativo. Quando eu era adolescente, achava que precisava viver alguma coisa emocionante demais, talvez até um pouco sofrida, para ter sobre o que escrever, ter uma história para contar. Hoje em dia prefiro passar meus dias de boca fechada e não escrever mais nada se isso for garantia de paz e harmonia. Mas a verdade é que não tem receita certa, não funciona igual pra todo mundo, nem sempre é do mesmo jeito pra cada um. Aos 15 anos a gente tem aquele apelo por drama, forjado por muitos filmes já mencionados nessa newsletter e, no meu caso, por muitos livros da Meg Cabot com narrativas em primeira pessoa de personagens que adoram dizer "minha vida está acabada!". Suponho que aquela história de escrever ser sangrar também faz sentido e pode ser catártico ter nossas dores e delírios em papel (ou tela). Eu não vou mentir que gosto de uma polêmica, uma reviravolta, uma paixão inesperada, uma carta não enviada, seja na vida ou ficção. Mas também sou fã de uma calmaria. De não ter compromisso ou pressa. De uma tarde inteira sem nada pra fazer. De um episódio de 40 minutos de Gilmore Girls em que a trama principal é Lorelai e Rory precisarem comparecer ao jantar na casa de um monte de gente no mesmo dia. Daquela sorte de um amor tranquilo com sabor de fruta mordida que no embalo da rede mata a sede na saliva que o Cazuza queria. Num dia transformar o tédio em melodia, no outro nunca mais respirar se não for notado pelo seu objeto de desejo. Quer receita melhor para a criatividade? Afinal, equilíbrio é mesmo tudo. Caos e calma. Tédio e falta de ar. Cerveja e salada. Inspiração e bloqueio criativo. Às vezes nem um nem outro, às vezes tudo ao mesmo tempo. Seja o que for, no mínimo sempre dá pra transformar em uma crônica.
Indicações da semana:
Participo de um grupo de leitura que gosto muito, o Minervas, e nas duas últimas semanas nós lemos e discutimos o Heroínas Negras Brasileiras em 15 cordéis, da Jarid Arraes. Uma leitura que te leva a várias outras, porque é impossível não acabar abrindo 10 abas no navegador em cada cordel para saber um pouco mais sobre as Heroínas e o contexto dos cordéis. A edição é linda e o livro, que ganhei de presente de minha amiga Mahalia, é cheio de história e esperança.
Na última semana, me aventurei em outros formatos, e eu, Dai e Igor lançamos o podcast Tá Com Tudo!. O primeiro episódio é a gente se apresentando e contando alguns casos que envolvem perder os documentos na véspera de um festival, voltar para casa a pé por culpa de um shortinho e trocar uma amarula que ganhou de uma freira por cortesias de um parque de diversões.
E hoje, lá pelas 15 horas, sai o segundo episódio, que é sobre o Emmy, premiação que aconteceu ontem à noite.
Se ouvirem, por favor me contem o que acharam.
Aproveitar o assunto Emmy e falar de Ted Lasso, essa série que mal chegou e eu já considero pacas. A premissa não é muito original: um treinador carismático que chega em um time revolucionando corações e mentes com sua abordagem. Mas isso não é problema e Ted Lasso é bom demais. O que acontece é que o Ted conquista a gente na medida que conquista os demais personagens da série. Tem um humor que não é de gargalhada, mas composto de pequenos detalhes, muitos trocadilhos e piadas autodepreciativas.
Fico por aqui. Um beijo com preguiça nessa manhã de segunda-feira.
E aproveitando o clima de sugestões, fiquem à vontade se tiverem alguma ideia de tema para compartilhar:
Revisão Otávio Campos
Adorei Lilica!!!!