Colecionar é como uma obsessão autorizada. Você acumula coisas repetidas, gasta seu dinheiro comprando itens que não são necessários para sua vida, mas é tudo saudável e apreciado, afinal, você é um colecionador. Antes de ofender alguém, acho melhor deixar claro que eu também sou uma colecionadora. Amadora, com certeza. Não fui há muitos confins em nome das minhas coleções. Mas, depois do celular e do meu namorado, com certeza as coleções seriam as primeiras coisas que eu salvaria daqui de casa em caso de incêndio. Tenho duas coleções: edições de Alice no País das Maravilhas e cartões postais. Colecionar livro é complicado, pesado, difícil de salvar quando as chamas avançam pela casa, eu realmente não recomendo. Por essa coleção já carreguei peso desnecessário em viagens para trazer uma edição Argentina com ilustrações góticas em uma daquelas viagens de bagagem limitada e mochilão. Também já fiz parentes carregarem peso para me trazerem uma edição com as ilustrações clássicas (curioso que esse exemplar veio inclusive acompanhado de um cartão postal). Acho que a coleção não vai muito à diante, não vai ser super completa, mas significa muito pra mim.
Já pela coleção de cartões postais fiz pouco, apesar de ser muito mais avançada. Gastei pouco dinheiro, ocupei pouco espaço na bagagem e já está guardada em lugar estratégico e de fácil salvamento do fogo. Em 2014, graças ao investimento na universidade pública, fiz um intercâmbio de um semestre para Portugal. Durante o intercâmbio, consegui fazer algumas viagens com bagagem limitada por ótimos preços. Essa viagens, que foram maravilhosas e espero que ninguém encare o que vem a seguir como reclamação, eram feitas de forma econômica, com kebab no jantar e muitas caminhadas à pé. A gente não almoçava em restaurantes e se perdia toda vez que chegava em uma cidade nova porque as direções anotadas não costumavam dar conta (e a numeração das ruas em Veneza não faz sentido). Foi tudo incrível e eu não me arrependo das caminhadas e muito menos dos kebabs. Mas, claro, ficava sim uma vontade de ter um dinheirinho a mais para comprar umas bugingangas nas feirinhas e lojinhas que encontramos pelo caminho. Adquiri muitas miniaturas da Torre Eifell e do Coliseu, que distribui para a família. Mas as melhores compras eram as dos cartões postais. Era chegar nas bancas e lojas e poder esbanjar. Paguei dois euros (na época com uma cotação bem diferente da atual) em 20 cartões postais em Roma, um deles com a foto do Papa Francisco, que agora eu adoro depois de assistir aquele filme excelente da Netflix. Meu xodó é um cartão postal que comprei em Florença e é uma foto de um interfone de um prédio com o nome dos moradores: Donatello, Michelangelo, Botticelli, Raffaello, Caravaggio, Tiziano, Leonardo e Poliziano.
Tenho também muitos cartões parisienses com montagens do Moulin Rouge. Várias fotos de sardinhas e chaminés da cidade em que morei, Faro, em Portugal. Além de muitos cartões ilustrados com cantorias de fado. Pela paixão da narrativa, acredito que dá pra ver qual é minha coleção favorita. Que continuou a crescer com as oportunidades que tive e viagens que fiz. Claro que adoro ganhar um cartão postal, mas os que contam mesmo são os escolhidos por mim para representar aqueles momentos nos lugares que conheço ou revejo. É como guardar lembranças que não foram feitas por você. Uma foto de Maradona beijando Cani. Mafalda se equilibrando em um Globo terrestre. O Abaporu da Tarsila. A estátua do Che em La Paz. O maior lago do mundo. O papa bonzinho mas dedo duro. O Rio de Janeiro. É claro que cartão postal é coisa de turista. Mas não sei se já ficou claro que as minhas coleções são coleções geográficas, memórias compartilhadas compradas por um preço baixo (ou nem tanto no caso das edições de Alice). E afinal, coleções são sobre memórias. Memórias em arte, livros, moedas, discos ou cartões postais. E memórias sobrevivem. Não importa quão alto seja o fogo. 🔥
Também puxei assunto sobre coleções no twitter. Se quiser participar da conversa e contar sobre as suas:
Sobre uma das polêmicas da semana: esse post sobre o porquê não é apenas um absurdo mas também ilegal exigir a concordância do cônjuge para inserção de DIU.
Para assistir: Zoey's Extraordinary Playlist é uma série musical que eu amo demais e foi cancelada em junho, mas agora possivelmente vai ganhar um especial de natal (e talvez uma terceira temporada). Vou indicar a série aqui celebrando essa boa notícia, assista se você gosta de números musicais inesperados e protagonistas que nem sempre fazem o que a gente quer. Tem na Globoplay.
Destaque de melhor personagem para Mo 💛 e as melhores músicas são do Simon sem dúvidas.
É o fim da Folhinha de abacate número 1 e hoje é também meu aniversário (UHUL). Se quiser me dizer o que achou, dar alguma sugestão (com jeitinho) ou me dar parabéns, pode responder como um e-mail ou comentar clicando aqui:
E se acha que tem alguém que gostaria de ler essas palavras, dá pra compartilhar:
Parafraseando minha amiga Valentine no diário que ela mantinha aos 8 anos: bem, por hoje é só.
Muito bom Lika
Lembro que quando era pequena tinha várias coleções em épocas diferentes. Colecionei piranha de cabelo, cartões de orelhão, papel de carta.... Mas depois q fiquei adulta perdi o hábito (talvez pq eu tenha mudado muito de casa e sempre perdia uma coisa ou outra; ou talvez pq a vida adulta acaba nos tirando esses prazeres se a gente não prestar atenção...). Vou tentar resgatar, pq é tão legal! Um beijo <3
PS: Essa é a primeira newsletter q eu assino, leio e amo. Vc arrasa demais