Em meados de 2008, eu e meus amigos começamos uma longa e deliciosa tradição de assistir ao Oscar. Como bons jovens do tipo cult bacaninha, a gente era fã de Los Hermanos e passava tardes assistindo filmes do Almodóvar. Nada mais justo que gastarmos nossa saliva cinematográfica com o Oscar, tecendo comentários no Twitter e organizando bolões valendo nada.
Dessa primeira paixão, desenvolvi outras, e hoje sou alguém que acompanha com alegria toda e qualquer premiação: Emmy, Cannes, The Best da FIFA, os Melhores do Ano do Faustão. Mas não há nada como meu primeiro amor e eu aguardo ansiosamente a domingueira do Oscar com tapete vermelho e performance de canções originais. O melhor do Oscar é que a cerimônia dura tanto tempo que, quando chega no final, até quem adora já está querendo que acabe. Não deixa com um gostinho de quero mais, o que eu acho excelente. Quem é que gosta de terminar algo com a sensação de que não está satisfeito?
Nos não somos de fazer a Glória Pires (que é a mãe de Cleo Pires do Fiuk Fiuk não) e temos condições de opinar sobre tudo (ou opinamos mesmo sem condições). Sem grandes pretensões (ou pelo menos com menos pretensão do que eu tinha aos 16 anos de idade), a gente se diverte e deixa aflorar um pouco do nosso espírito competitivo (característica essencial para andar comigo).
Eu não sou especialista, bem longe disso. Mas assistir, comentar, ler, escrever e falar sobre filmes têm mesmo um gostinho especial. Sei que essa minha opinião está longe de ser única e, inclusive, as crônicas mais elogiadas da Folhinha são as que trazem menções à séries, filmes ou desenhos. Quando eu escrevo sobre Rei Leão, Mazzaropi, Batatinha e Alfalfa, Sexta-feira Muito Louca ou locadoras, escrevo também sobre sensações e sentimentos compartilhados: eu e Val somos Alfalfa e Batatinha; minha cunhada Lilian era a maior fã da Lindsay Lohan; João e eu sabemos cantar de côr uma versão católica de Let It Go (Você quer ir pro retiro?). Acredito que 90% dos meus leitores mais satisfeitos têm mais ou menos a mesma idade que eu e passaram a infância em locadoras de filmes. Que poder doido essas histórias têm. De identificação e memória, mas também de atravessar gerações e permitir que eu cante Nesta noite o amor chegou junto com a Estelinha.
Infelizmente, sabemos que o Oscar não representa isso tudo, afinal tem incontáveis problemas que poderíamos apontar. Mas já o nosso grupo de Whatsapp do Bolão Oscar 2022 é praticamente a essência do que é cinema de verdade e da variedade de opiniões, críticas, recordações e vontades que um filme pode provocar.
Lucão é responsável pela planilha de apostas. Mahalia é a recordista de vitórias. Valentine sempre faz as suas apostas com o coração. Jasmine e Carol não estão muito satisfeitas com os indicados, mas estão dispostas a apostar um dinheirinho. Aline fez algumas apostas na sorte, devido a problemas tecnológicos. Vitor Julio fala o nome de cada filme estrangeiro na pronúncia perfeita, enquanto sua antagonista, Amanda Amaral, não se dá bem com as pronúncias, mas acerta mais do que ele no bolão. Daniel sempre traz informações e curiosidade.
É um conjunto de personagens verdadeiramente carismáticos, que não precisam de enredos mirabolantes para brilhar. É só juntar todo mundo e bater a claquete, que a gente se vira pra contar uma boa história.
O que eu indico essa semana (bem temática):
Meus favoritos do Oscar: Duna, Tick, Tick… Boom!, Encanto e A Filha Perdida.
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