Tenho certeza que não sou a única que quando adolescente tinha como parte favorita no The Sims criar as casas, escolher os móveis, encher de coisas inúteis como escorregadores ou sistemas de som muito avançados. Era isso ou me divertir mandando o bonequinho pro segundo andar e tirando a escada. Tudo de graça, com uma versão do jogo pirateada e muito Klapacius (o macete para fazer seu dinheiro magicamente crescer).
Agora, estão vendendo casas no metaverso. Você pode comprar um terreno e construir do zero. Ou já escolher um apartamento pronto, é só juntar suas trouxinhas virtuais e mudar. Não é barato, mas por que seria? A promessa é que o mundo virtual passe por um processo de valorização nos próximos anos e que nós, aqueles que ficam fazendo chacota na internet dos bobos que gastam seu suado dinheiro com um pedaço de terra que não existe do antiquado mundo real, vamos nos arrepender amargamente de não ter aproveitado o início de tudo para garantir nossa casa própria. Mas não se desesperem, tenho certeza que o Deus do metaverso tem um plano para todos nós. Podemos fundar movimentos agrários virtuais, concorrer por milhões de dólares na MegaVerso, esperar que um avatar imortal do Luciano Huck passe pelo nosso MetaBairro fazendo o bem ou mesmo financiar um apartamento onde mal cabem as roupinhas da minha boneca do site Dolls, quem dirá um escorregador ou um sistema de som avançado.
Como é comum lermos por aí no Instagram naquelas páginas de auto ajuda em que tudo parece ter sido escrito pra gente: tudo tem seu tempo. Agora ainda não é a hora de abandonar os horrores e as delícias desse espaço tempo maluquinho em que vivemos. Enquanto o mundo real ainda for real, vamos manter nossos pés firmes por aqui reivindicando nosso direito de existir no planeta azul que se chama Terra, mesmo que isso signifique conviver com alergias durante todo o inverno.
Claro que minha defesa apaixonada não é sem propósito, afinal, acabei de me mudar. Para uma casa em carne e osso! Ou tijolo e cimento. Ou azulejos rosas na cozinha, porcelanato que nunca fica limpo no chão e uma parede de tijolinhos que é nota dez para tirar fotos. Tem um quintal com temperos e frutas e uma varanda pra receber os amigos. Também já tem problemas também, claro. Áreas pra pintar, um ralo que não nos deixa em paz e um sofá a caminho gerando extrema ansiedade nos moradores.
É bom imaginar o que a gente vai viver aqui. Todo mundo que vai passar por essa casa. Os aniversários que a gente vai comemorar, as festinhas da geoesquerda, as reuniões da Sociedade do Anel e da Ordem da Fênix (meus grupos de leitura com nomes pra lá de originais), os churrasquinhos com minha família quando eles vierem visitar.
Também é bom pensar nas poucas coisas que já aconteceram. No monte de gente que nos ajudou no dia da mudança. Nos almoços de domingo. Nas cervejinhas na sexta à noite. Nos dias de manhã em que eu e Daniel prometemos acordar cedo e ficamos enrolando na cama. Em sair pra varanda pra respirar um ar puro e voltar congelada para dentro de casa porque o frio está impraticável.
Mudanças são momentos estranhos. Exigem muito da gente. Afinal, não acontecem de um dia pro outro. São um processo, normalmente com objetivos difíceis de definir lá no início, que se transformam com o passar do tempo, que já são irreconhecíveis no final. Às vezes nem mesmo queremos mudar, estamos satisfeitos e confortáveis aonde estamos, parece mais fácil continuar. Mas somos obrigados por forças do destino como o aumento do valor do aluguel, um novo emprego em outra cidade, o fim do mundo real e a migração de toda a vida para o temido metaverso. Seja por escolha ou por empurrão, a vida vai mudando nossa vida e a gente mudando junto. Podemos tentar fazer dos nossos sentimentos um punhado de entulho, jogar tudo fora, doar, reciclar... No fim, sempre fica um pouquinho com a gente, acumulando de casa em casa. Lembranças de todo o tipo. Afinal, mudar não é esquecer, nem mesmo deixar pra trás. Pode ser estar no mesmo lugar de outra forma ou ser o mesmo em outro lugar.
Para nossa nova casa, a gente trouxe móveis, livros e memórias, mas também construímos cômodos, compramos uma nova estante e vamos viver o que serão as futuras lembranças. Tomando o cuidado de sempre arranjar um tempinho para sentar na varanda com um livro, seja para uma confortável releitura de um exemplar antigo ou para começar uma nova história.
Amei mt a nova casinha e tenho certeza que as novas lembranças que vem por aí serão incríveis! Felicidade sempre, em todas as fases <3
Quero conhecer logo essa casa nova. Só estou esperando o sofá novo chegar, que aí já durmo nele e conheço a casa. Aguardando ansioso...