Escrevo essa crônica direto de uma sala de espera no consultório da minha ginecologista. Que lugar seria melhor para abrir o aplicativo de notas do celular e escrever? Ainda mais quando o pacote de dados acabou e só o que funciona é o WhatsApp (então aquelas promoções de WhatsApp liberado são mesmo verdadeiras e não apenas golpes de marketing para atrair pessoas com pouca afinidade com a tecnologia).
É o fim do mês de agosto (sim, eu às vezes escrevo as crônicas com alguma antecedência) e eu poderia falar sobre como acho injusta essa aura de infinitude torturante que atribuem logo ao mês do meu aniversário (mas realmente parece que tem séculos que publiquei a primeira edição dessa newsletter, em 9 de agosto).
Mas não. O assunto escolhido de hoje, não por acaso após um pouco de enrolação, é exatamente o lugar perfeito para jogar conversa fora, não ir direto ao ponto, embromar até o momento certo: sala de espera. Não precisamente esta em que me encontro, mas o conceito etéreo e inexplicável, palco de tantas outras crônicas, de inúmeros meet cutes (a cena em que o mocinho ou a mocinha da história conhece aquele ou aquela que será seu par romântico) e onde terminei de ler tantos livros.
Ao contrário da maior parte das pessoas que habitam o planeta Terra, eu não tenho nada contra salas de espera. Na realidade, quando sei que, em algum momento do dia, vou precisar enfrentar qualquer tipo de espera, seja em uma sala ou uma fila, já programo as coisas que farei naquele horário específico. Levo pelo menos dois exemplares de livros diferentes, para caso não me dê vontade de ler algum gênero específico. Aproveito para responder aquelas mensagens que estavam acumulando, para escrever uma lista de compras, limpar a caixa de e-mail, ler aquelas duas matérias que mandei no grupo comigo mesma no WhatsApp (para salvar), assistir um vídeo no YouTube que quero ver há um tempão, terminar um episódio de série que estava assistindo ontem mas peguei no sono, ou quem sabe escrever aquela crônica.
O que costuma me acontecer é que a espera é insuficiente. Meu nome ou número é chamado e eu ainda não acabei o capítulo! Ainda não li o número de páginas do artigo que eu havia programado! Não deu nem tempo de ligar para a operadora de celular e resolver um problema que estou adiando há quatro meses! Será que não dá pra passar ninguém na minha frente? Ou o atendente não pode aguardar uns minutinhos? Só faltam quatro páginas! Mas eu preciso também ir ao banheiro, rapidinho, cinco minutinhos... Ou quinze, porque eu trouxe uma pinça e programei tirar o excesso da sobrancelha enquanto esperava.
Me lembrei da última grande fila que enfrentei, no dia em que tomei a segunda dose da vacina. Fiquei quase duas horas esperando, mas claro que sem reclamar. Assisti três episódios da série Love, Victor (que inclusive recomendo) e fiz algumas amizades com quem nunca mais terei contato. Praticamente não senti a dor da espera, entretida com o dueto de Holly do episódio 9 (melhor cena da temporada, na minha humilde opinião).
Claro que tomar vacina é melhor do que assistir série. Mas nem sempre é assim. Dá para ler um bom livro antes de uma reunião de renegociação de dívidas no banco. Ou para maratonar reels da Pequena Lo antes de fazer um preventivo (para quem nunca fez, acredite, não é muito legal).
Seria mesmo ótimo se a gente chegasse em qualquer lugar e já fosse instantaneamente atendido. Mas, como diz a professora Marina do curso Lendo O Capital, "só o que existe, existe", e espero que ela me perdoe por aplicar esse ensinamento tão profundo em contexto tão banal. Se a gente precisa lidar com a realidade das filas e esperas intermináveis, por que não fazer isso de forma agradável e, às vezes, até mesmo produtiva?
A minha dica final, que considero de grande valia: nada melhor para fazer em uma sala de espera do que ler uma crônica! Um textinho leve, divertido, com o qual é possível se identificar em certa medida. É perfeito. Para longas esperas: Folhinha de abacate. Essa será a nova frase promocional dessa newsletter. Talvez eu até mande fazer camisas estampadas e canecas. Ou então uns cartões para espalhar pelas salas de espera por aí. E assim vou alavancar a Folhinha e chegar ao estrelato! Eu prometo não esquecer de vocês, aqueles que estavam comigo desde o começo...
Nossa, chamaram meu nome. Pedi a doutora um minutinho, só para eu terminar. Peço desculpas pelo devaneio, fui longe, me deixei levar. Mas realmente não tem nada melhor para uma sala de espera. Deixar a imaginação ir embora. Ir parar em outro lugar. Viajar na própria cabecinha. Se imaginar dando uma entrevista no Domingo do Faustão, mesmo que o Domingão não seja mais dele. Listar as músicas que você colocaria para tocar no gramado em dia de paredão se fosse para o BBB, mesmo nunca tendo nem se inscrito para o programa. Escolher a tatuagem de casal que faria no dia do seu casamento com a Zendaya, mesmo torcendo para que ela e Tom Holland fiquem juntos e sendo terminantemente contra tatuagens de casal. Ou então pensar que roupa você usaria no Met Gala, mesmo não tendo sido convidado. Planejar o discurso que faria recebendo o Oscar de Melhor Figurino, mesmo que você trabalhe como TI. O tempo voa. E até que é bem divertido. Mas é preciso voltar para realidade, afinal tem um preventivo me esperando. Me desejem sorte.
Indicações da semana:
Doses de tiquira é um boletim semanal de crônicas, escrito pela Luisa Pinheiro. Como professora em casa há mais de um ano, me identifiquei especialmente com a crônica da última semana, em que a Luisa se dedica a algumas das muitas questões que envolvem o trabalho remoto durante a pandemia, com bom humor e boas reflexões.
Essa semana li o chifre, da Adelaide Ivánova, publicado pela minha editora favorita, a Macondo. Li os 13 nudes da Adelaide no ano passado e gostei muito, então as minhas expectativas para o chifre eram altas, mas mesmo assim conseguiram ser superadas e eu amei demais.
Além disso, sou muito adepta de julgar livros pela capa e a do chifre é linda.
Vou participar de uma live hoje com minha amiga Carol Soares, às 13 horas, no Instragram da Carol. Já indiquei o perfil da Carol aqui na Folhinha — ela produz conteúdo sobre alimentação e yoga e é maravilhosa. Essa semana eu comentei com ela sobre a minha dificuldade de saber comprar e usar temperos diferentes (já entrei mais de uma vez em lojas a granel e fiquei rodopiando sem saber o que fazer). Na última vez que isso aconteceu, eu estava determinada a sair de lá com vários temperos diferentes, mas não consegui me decidir e acabei pedindo camomila e hortelã para a atendente. Não houve desperdício, porque na minha casa um chazinho é sempre bem-vindo (e hortelã é meu favorito). Mas, para que essa história não se repita e as lojas a granel deixem de ser território hostil para mim, a Carol vai tirar minhas dúvidas e do restante da audiência hoje na live.
Isso é tudo, pessoal! (assisti Space Jam 2 essa semana e não indiquei aqui porque não gostei — faltou Patolino no filme —, mas os bordões ficaram gravados na mente).
Espero que essa crônica tenha feito companhia para vocês em uma sala de espera (ou onde vocês estiverem).
Revisão: Otávio Campos
No consultório
Um ótimo conceito de sala de espera, vou enviar para minhas futuras pacientes hahaha
Pra minha próxima fila de espera já até sei o que vou fazer: colocar em dia os comentários que queria ter deixado nas últimas publicações da folhinha, mas que não deixei porque fiquei devaneando após a leitura que foi gostosinha demais!