Eu moro na cidade de Juiz de Fora, Minas Gerais, e minha estação do ano favorita por aqui é o outono. Ressalto o por aqui porque não sei se seria por toda parte, afinal, ao contrário do que afirma Sandy&Junior, o outono não é sempre igual. O outono no clima juiz-forano, que é Tropical de Altitude (a professora de geografia que habita em mim saúda a professora de geografia que habita em vocês), é o que eu gosto mais entre todos os outonos que já experimentei.
Em minha cidade natal, de clima Tropical, o outono é quente como todas as outras estações do ano, exceto na semana da Exposição Agropecuária na cidade, quando sempre faz um pouquinho de frio pra gente poder ir pro parque de exposições de bota.
Quando morei no Algarve, em Portugal, vivi o verão, o outono e um pouquinho do inverno. Eu estava visitando uns amigos meus quando o verão foi embora e começou a fazer frio — tinha levado blusas sem alça e saias na mala, e de repente o outono chegou e nunca mais fez calor. Meu amigo Iano me emprestou um casaco e um tênis e eu sobrevivi a visita, mas, antes do outono acabar, tive que comprar uns agasalhos reforçados para aguentar o Mediterrâneo Temperado de Faro, a cidade em que eu morei. Minha foto de maior sucesso do período além-mar foi tirada no outono, segurando aquela folhinha clássica das comédias românticas londrinas. Mas não conheço Londres e a minha foto foi em Milão, o que não impediu a fotografia de ser um grande sucesso de likes na rede social da época, o Facebook.
Eu gosto do outono porque é a época de desaposentar os casacos guardados na parte de cima do guarda-roupa no verão. Usar meias o dia todo. Comprar meias novas. Sim, eu realmente adoro meias. No outono, você acorda e tem vontade de continuar deitado, mas não tanto quanto no inverno, só o suficiente para curtir uma preguicinha antes de enfrentar o mundo real que fica além da nossa cama.
Aqui em Juiz de Fora, o outono "vareia, ocila d+" (essa é da época do Orkut) e é possível sentir de tudo em um dia, vestir de tudo em um mês. Você sai de casa de casaco pesado e bota às 7 da manhã, lá pelas 10 horas começa a se desfazer das camadas de roupa, ao meio-dia já está praticamente nu, mas é melhor colocar um casaquinho quando começa a ventar umas quatro da tarde, às seis escurece e é a hora de vestir as meias de volta, depois das nove já é adequado ficar debaixo das cobertas. É um desafio se vestir toda amanhã e, se formos mesmo sinceros, o look perfeito para a Manchester mineira é usar chinelo e meia — a receita certa pra não errar. Já que não tem peça de roupa que eu adore mais que um casaquinho, o outono é minha estação do coração.
A verdade é que acho a música injusta. Para Sandy&Junior, o outono é monotonia, com as mesmas folhas caindo no quintal, de novo. É uma referência àquela fase do romance em que as coisas já estão mais estáveis, sem grandes emoções, mas o amor permanece lá. Inclusive o amor permanece por ser imortal, e amar alguém de forma imortal não me parece muito saudável. Monotonia e imortalidade logo na melhor estação do ano.
Se eu fosse escolher uma fase do romance para descrever como outono, seria aquele momento em que os pares, trios, quartetos, ou o que for da vontade de cada um e consentida por todos os envolvidos, descobrem que o amor bom é aquele como um casaquinho no outono do clima Tropical de Altitude: gostoso e quentinho, uma delícia de usar, mas possível de viver sem. Não dá pra ficar de casaco o dia inteiro, porque faz calor em alguns momentos do dia. Se você se expuser ao sol e ele estiver um pouco mais forte, vai ser melhor tirar a blusa de frio. Mas se agasalhar às vezes é bom, deixa a gente mais bonita, confortável e feliz. De preferência sem um monte de folhas caídas no quintal esperando para serem varridas.
Sinceramente não sei bem como chegamos até aqui, mas é melhor eu encerrar antes que comece a analisar todas as músicas desse álbum incrível. Fica a promessa de mais crônicas sobre amor e Sandy&Junior, não necessariamente combinados.
Indicações da semana:
Essa prática de Yoga Nidra, para aqueles dias em que for preciso, talvez até urgente, relaxar:
Essa semana vi um tweet perguntando qual seria a música do Roberto que Caetano diz, e Gal canta, que você precisa ouvir em Baby. Fui tentar descobrir e encontrei essa matéria aqui, que não diz qual música é (parece não ser nenhuma música específica), mas conta um pouco da história e das fofocas envolvidas em Baby.
E, continuando no assunto Tropicália, aproveito para indicar também a websérie Travessia Tropicalis, do meu amigo Tércio, que conta a história de Tercílio, um jovem baiano que se muda para São Paulo em busca de oportunidades e faz amizades no mínimo interessantes.
A HQ Arlindo, que conta as aventuras de um adolescente do interior do Rio Grande do Norte. O Arlindo é fã de Sandy & Júnior e de locadoras, então tem tudo a ver com essa newsletter. Além disso, os desenhos e cores da Ilustralu, autora de Arlindo, são lindos e a história é importante e gostosa de ler.
Comprei a versão física do livro e indico, é muito bonito. Mas quem não puder/quiser comprar, é possível ler tudo no twitter da autora:
É o fim de mais uma Folhinha de abacate!
Um beijo e não se esqueçam de sempre levar um casaquinho.
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Revisão: Otávio Campos