Pirâmides de abacate
Duas semanas sem escrever e já me esqueci como faz... Estou aqui sem saber do que falar, por onde começo e se vou mesmo chegar ao fim. Às vezes é assim mesmo, a gente some sem dar notícias. Quando isso acontece, fica parecendo desleixo ou falta de consideração. Mas, na verdade, costuma ser vergonha, falta de tempo ou um apego tão forte àquela esperança de que vamos conseguir chegar à tempo que não conseguimos nem mesmo admitir que não vai dar pra ir.
Nas últimas semanas mantive essa centelha de fé, achando todo domingo que ia dar tempo, que eu ia conseguir escrever alguma coisa para enviar na segunda-feira. Agora já é sexta-feira e eu só consegui escrever dois parágrafos com escassez de conteúdo.
Me pergunto onde estão todas aquelas minhas boas ideias, que eu anoto como possíveis temas de crônicas e depois não sei de onde tirei e onde eu queria ir com aquilo. Segue a lista salva nas notas do meu celular:
Temas para Folhinha:
O Aleph
Diários
Esquemas de pirâmide
Personagens que gostaria de conhecer (lista)
Hora do chá/tomar um cafezinho
O Aleph: meu conto favorito do Jorge Luis Borges é sempre tema recorrente em qualquer coisa que eu escreva, qualquer evento do qual eu participe, qualquer conversa em que eu tenha a oportunidade de espalhar a palavra de O Aleph, esse ponto de encontro de tudo, que uma vez encontrado nunca é esquecido. Na vida, procuro o Aleph por toda parte, meu olhar não é muito atento para detalhes ou para decorar caminhos, mas percorre o mundo procurando o tal ponto que vai me permitir ver “o lugar onde estão, sem se confundirem, todos os lugares do mundo, vistos de todos os ângulos”.
Cada coisa (o cristal do espelho, digamos) era infinitas coisas, porque eu via claramente de todos os pontos do universo. Vi o populoso mar, via a aurora e a tarde, vi as multidões da América, vi uma prateada teia de aranha no centro de uma negra pirâmide, vi um roto labirinto (era Londres), vi intermináveis olhos próximos perscrutando em mim como num espelho, vi todos os espelhos do planeta e nenhum me refletiu, [...] vi a engrenagem do amor e a modificação da morte, vi o Aleph e no Aleph a terra, vi meu rosto e minhas vísceras, vi teu rosto e senti vertigem e chorei, porque meus olhos haviam visto esse objeto secreto e conjetural cujo nome os homens usurpam, mas que nenhum homem tem olhado: o inconcebível universo. (O Aleph - Jorge Luis Borges)
Diários: os meus diários são realmente um tema promissor! Já não tenho todos, porque alguns joguei fora em um impulso, mas são muitas as confissões que ainda mantenho guardadas, narrando meu primeiro beijo, brigas com as amigas e muitos outros dramas adolescentes do fim do mundo.
Esquemas de pirâmide: já os esquemas de pirâmide, não sei como foram parar ali. Até tentei me lembrar, mas não me parece que eu tenha nada interessante para falar deles. Só posso declarar que são um péssimo negócio e que eu nunca caí em nenhum. Lembrem-se, sempre desconfiem de pessoas do passado que batem em sua porta, pode ser uma pirâmide querendo entrar.
Lista de personagens que eu gostaria de conhecer: a lista de personagens que eu gostaria de conhecer será escrita um dia, mas não hoje. A seleção precisa ser rigorosa para que a lista não acabe com 80 nomes, sendo metade deles personagens da minha saga favorita (aquela-que-não-deve-ser-nomeada).
Hora do chá/tomar um cafezinho: a hora do chá e do cafezinho não está na mesma esfera dos esquemas de pirâmide, mas passa perto, já que não me recordo do que me inspirou a pensar em escrever sobre esse tema. Mas talvez tenha mesmo alguma coisa aí, nessa hora mágica e necessária, até mesmo para quem, como eu, tem evitado tomar café por motivos que vão além da minha mera vontade (refluxo). Um manifesto pelo chá, quem sabe. Tudo pode acontecer ao falarmos desse tema, além de muitos possíveis trocadilhos.
No fim, vejo que foi um ótimo plano comentar a lista de possíveis temas na falta de um. Cheguei ao final da crônica e agora me sinto inclinada a promover uma espécie de votação ou caixinha de sugestões para meus leitores, que podem clicar no botão abaixo para comentar aqui qual tema gostariam de ver nessa humilde newsletter.
Um incentivo para essa não tão dedicada escritora. Uma respostas da audiência sobre a Folhinha de abacate. É claro que é permitido fingir que não viu, mas para manter a consciência realmente tranquila, é preciso clicar e fazer sua parte. Pensando bem, quem sabe um esquema de pirâmide por aqui não seja razoavelmente adequado? Uma rede de indicações da Folhinha de abacate, em que cada leitor indica a Folhinha para novos leitores que indicam a Folhinha para novos leitores que indicam a Folhinha para seguir, assim por diante, uma pirâmide de abacates para ninguém botar defeito.
Indicações da semana:
Heartstopper na Netflix. Série baseada nos quadrinhos da Alice Oseman que é provavelmente a melhor adaptação que já vi. E dá pra ler os quadrinhos (que são lindos) aqui.
Essa piscadela:
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