Na semana passada, terminamos de ler o livro Kindred - Laços de Sangue, da autora Octavia Butler, no clube de leitura do qual faço parte, o Minervas (siga a gente no Instagram). Para quem não conhece o livro, conta a história de Dana, uma escritora que vive em 1976 nos Estados Unidos. Em seu aniversário de 26 anos, Dana se sente tonta na sala de sua casa e, sem nenhuma explicação aparente, viaja no tempo e no espaço, para Maryland, no século XIX. Dana é uma mulher negra e se vê, de repente, tendo que viver em um período escravista. O final do livro recebeu críticas dentro do nosso grupo de leitura (eu particularmente gostei), mas, mesmo assim, todas gostaram muito do livro.
Tive vários sonhos em que estava dentro da história. Sonhar com os livros que estou lendo é provavelmente algo que eu poderia colocar naquelas listas do Instagram de “coisas aleatórias que eu gosto”. Não o farei, pois, apesar de não julgar ninguém que o faça, não participo dessa empreitada específica. Não tenho nada contra essas listas, mas não costumo ler as de ninguém, por uma simples falta de interesse, então não acho justo querer que alguém se interesse pela minha. Já sobre a lista de “coisas aleatórias que eu não gosto”, eu teria muito a dizer, pois uma de minhas grandes revoltas cotidianas é o preenchimento equivocado dessa lista pela maioria das pessoas, que dizem não gostar de falsidade, ser feita de trouxa, esperar na fila ou qualquer outra coisa nem um pouco aleatória da qual quase ninguém gosta (mas caso você realmente não goste de esperar em filas, clique aqui para dicas do que fazer enquanto espera).
Voltando ao assunto sonho com livros: adoro! Mas sonhar com Kindred foi estranho. Apesar de meus sonhos especificamente não terem sido violentos, eram sonhos sobre períodos de violência constante e que, junto com a leitura do livro, me trouxeram reflexões incômodas, mas necessárias. Kindred é uma história que se pergunta quem pode viajar no tempo sem ser marcado de forma definitiva e sem ter sua existência e liberdade questionadas. Dana não tem poderes, mas sim um fardo. Uma história que ela não escolheu, mas que precisa viver.
Efeito Borboleta era um dos meus filmes favoritos na adolescência e até hoje tenho uma queda pelo Ashton Kutcher e sou fã de Oasis. Nem sei quantas vezes assisti esse filme, mas sei que, com o passar dos anos, deixei de ser fã de histórias que incluem viagens no tempo. Quem me conhece sabe que eu sou uma das poucas millennials que não é fã de De Repente 30, que eu não me envolvo com a Marvel e que não perco uma oportunidade para dizer que o O Prisioneiro de Azkaban é o pior livro da saga Harry Potter (salvo apenas pelos Marotos).
Achava que viagem no tempo não era pra mim, mas talvez tenham sido apenas as histórias erradas. Em Harry Potter, o vira-tempo é um god ex machina chegando a toda prova para salvar o dia e, dois livros depois, ele é retirado para sempre do mundo mágico, em uma tentativa desesperada Daquela-Que-Não-Deve-Ser-Nomeada de dar um basta nos fanfiqueiros (claro que, anos depois, ela comeu no prato que cuspiu com a peça A Criança Amaldiçoada, que surpreendentemente eu não odeio, mas gostar… bem, ninguém gosta). Em De Repente 30, sempre tive problema com o conceito de que a personagem deixa de viver 17 anos da vida dela e tudo fica por isso mesmo e ela não parece lamentar o fato. E o que dizer dos filmes da Marvel? Às vezes me interesso por algum filme, mas sempre que assisto tenho a impressão de que a complexidade da trama é sempre explicada em poucos minutos para que a gente não entenda e tenha que ficar procurando teorias no reddit depois, enquanto temos horas de cenas de luta que estarão completamente desatualizadas em dois anos.
Mas quem sou eu pra julgar se gasto quase todo tempo livre que tenho revendo Gilmore Girls e rindo das mesmas piadas da Lorelai? Tenho certeza que se fosse a Rory ou Kirk viajando no tempo, eu iria facilmente me interessar. Assim como foi com a Dana. E Kevin, Alice, Carrie, Nigel, Sarah… Para saber quem são esses, só lendo Kindred. E não se esqueçam de me contar o que acharam do final.
Indicações da semana ou as poucas histórias com viagens no tempo que eu gosto:
Uma indicação previsível, mas necessária: Donnie Darko.
Questão de tempo tem alguns furos, mas é fofo. Eu com certeza faria o mesmo que o pai do protagonista se pudesse viajar no tempo.
O segundo melhor filme do Adam Sandler: Click.
Umbrella Academy - a série da Netflix e os quadrinhos.
Se gostou dessa crônica, se inscreva para receber as próximas:
E você pode ler mais clicando aqui:
Na leitura do título eu pensava: Tanta coisa pra fazer... imagina ainda ter que viajar no tempo kkkkkkkkkkkkk