Sim, eu adoro esse filme. Lindsay Lohan em sua melhor fase. Música boa. Lucas de One Tree Hill como par romântico. Drama familiar com final feliz. Tudo perfeito para uma sessão da tarde.
Mas não quero falar exatamente sobre esse clássico, e sim sobre essa história toda de trocar de corpo, encarar outra perspectiva, ver o mundo pelos olhos do outro, ser visto pelo mundo como o outro é visto.
Para não comprometer o entendimento de alguém que tenha cometido o CRIME de nunca ter assistido ao filme Sexta-Feira Muito Louca, explico que a história é sobre uma adolescente rebelde que não consegue se entender com sua mãe, uma psicóloga viúva prestes a se casar novamente. As duas ganham biscoitos da sorte mágicos de uma senhora que as vê discutindo e, na manhã seguinte, acordam com os corpos trocados. Como destrocar? Se entendendo, fazendo as pazes, compreendendo as angústias e as alegrias uma da outra.
Eu não sei desenhar, não tenho nenhuma técnica, mas gosto (bastante) mesmo assim, e, com a ajuda de um pouco de criatividade, consigo fazer alguma coisa engraçadinha. Mas é difícil a parte da perspectiva. Meus desenhos são todos planos, estáticos, não sei bem como definir — eles são basicamente como a maioria de nós no Brasil de Bolsonaro: sem nenhuma perspectiva.
É mais fácil desenhar e analisar as coisas vistas do ângulo mais simples. Se a perspectiva com que encaro a situação é a minha, aquela que cultivo há 30 anos e com a qual já estou mais do que acostumada, o trabalho é menor. Assim, levo em consideração meus medos, sonhos, traumas, defeitos e qualidades. Nós estamos no mundo a partir de nós mesmos, da nossa perspectiva, cuidadosamente consolidada. Como sair dela? Como entender o outro, dialogar de verdade, fazer como mãe e filha no filme dos anos 2000 e sentir na pele as dores e amores de alguém que não é você? Fazer isso sem biscoito mágico da sorte ou habilidades de desenho é um pouco mais complicado, mas nada impossível. Eu acredito que o que é preciso é disposição. Disposição como aquela vontade verdadeira, que se dedica e se propõe a sair da zona de conforto. Mudar a perspectiva é um exercício de quem se dispõe a construir relações e aprendizados sinceros, que não deixam de ser nossos e vir a partir da gente, mas conseguem ir além.
Claro que, para conhecer o diferente, é importante se conhecer também, mas a conversa sobre autoconhecimento vai ficar para outro dia. Longe de mim querer aborrecer a segunda-feira de alguém com uma moral de história de comédia romântica, mas, se você ainda não tem um bom programa para o fim do expediente de hoje, talvez assistir Sexta-Feira Muito Louca seja uma boa ideia. Pode mudar sua perspectiva.
Indicações da semana:
Já que a crônica de hoje segue uma linha conselhos baratos, reflexões de chuveiro e muita moral da história, vou indicar os 4 episódios da sétima temporada de Grace e Frank que foram liberados essa semana (na Netflix). Se você já assistiu Grace e Frank, provavelmente já devorou esses quatro episódios e está desesperado por mais notícias. Se você nunca viu, e eu sei que não é de bom tom indicar séries com mais de 3 temporadas para ninguém em tempos de ditadura do relógio e essa coisa toda, eu prometo que vale a pena. Alguém mais queria ser e casar com a Brianna ao mesmo tempo?
Mais uma newsletter: essa é a Cajueira, uma curadoria de conteúdos produzidos pelo jornalismo independente nos estados do Nordeste.
A última edição, de 19 de agosto, fala sobre a visita de Bolsonaro a Juazeiro do Norte (uma cena digna de Bacurau), sobre a paraibana Margarida Maria Alves, que é "um dos maiores símbolos brasileiros da luta pelas trabalhadoras e trabalhadores rurais no Brasil” e vários outros temas.
Essa semana li o terceiro livro da trilogia Carry On, da Rainbow Rowell. É uma espécie de fanfic de Harry Potter em que Drarry acontece de um jeito bem dramático (e fofo) e com um mundo bruxo mais possível dentro do impossível. Algo assim. Se você é fã dos três bruxinhos de Hogwarts, será também fã dos três bruxinhos de Watford (a escola de magia de Carry On). A aposta é certa.
E se alguém aqui for leitor dessa saga, me envie uma mensagem com urgência, porque estou desesperada por um amigo com quem conversar sobre isso.
Li há alguns anos o livro Mulheres de Cabul, no qual Harriet Logan traz uma série de fotografias e relatos sobre o regime do Talibã de 1996 a 2001. É um livro triste e necessário, um documento histórico que nos lembra do que ainda é possível (e preciso) impedir que se repita.
Deixo também um fio sobre o tema:
Obrigada novamente pelas mensagens e pelos comentários. 💜
Fico por aqui.
Revisão: Otávio Campos
Meu biscoitinho da sorte necessário (breguinha mas bem verdadeiro). Amei a cartinha ❤️
Mesmo sem perspectiva seu desenho é bom. Tem um traço marcante.