Estava pensando sobre um determinado fenômeno, de que talvez seja vítima nossa tão aclamada geração Millennium ou talvez seja um percurso natural do crescimento humano: quando adolescentes, acreditamos fielmente que ninguém pode nos entender. Sentimos que somos o último adolescente do pacote, tão especial e único, ou quem sabe tão controverso e incapaz, que não há alma no mundo inteiro que possa compreender nossos sentimentos, a não ser o compositor das nossas músicas favoritas.
Os dias passam não tão devagar, ignorando a previsão da Luka, e tudo se transforma. De repente, todo mundo nos entende. A gente assiste uma série e sempre sente que algum personagem tem uma trajetória que lembra muito a da Ju a nossa. Lemos um livro e grifamos frases e mais frases sentindo que quem o escreveu é um velho conhecido nosso. Observamos os twittes sobre calor, terapia, escola e anos 90 pensando "poderiam ter sido escritos por mim". Esbarramos com uma frase da auto ajuda barata no Instagram e BOOM! É exatamente o que a gente precisava ouvir!!! Eu imagino, leitor, que você já está pensando agora, enquanto lê a Folhinha de abacate de hoje, como essa crônica tem tudo a ver com você!
Quando a gente ficou tão fácil de entender? Foi algum fenômeno após virada dos anos 2000? No lugar do fim do mundo ou do pane das máquinas que foi anunciado, tivemos um evento cósmico nunca antes percebido, gerando total compreensão entre semelhantes?
É mais provável que haja alguma explicação sociológica, da qual irei lamentavelmente me esquivar. Talvez o mundo esteja realmente sendo feito pra gente, mas não por nós, já que estamos todos desempregados e longe de alcançar nossos sonhos, e não por muito tempo, afinal, a geração Z vem aí, abolindo cabelos de lado e o culto ao café.
É melhor aproveitarmos enquanto podemos, antes de nos tornarmos pessoas ranzinzas que dizem frases que começam com "no meu tempo" ou "não faz mais insira aqui qualquer coisa como antigamente". Ou, caso a gente prefira fazer a linha adulto com a cabeça aberta que abraça os costumes e normas da nova geração, nos tornarmos o próprio Didi hipster. Não julgo nenhuma das opções, afinal pretendo adotar uma mistura de ambas. Ocasionalmente parto meu cabelo ao meio, adoro a Olivia Rodrigo e só uso calça larga (skinny nunca mais!). Mas não perco uma oportunidade de me entregar ao saudosismo, pedir o retorno do chocolate da Turma da Mônica ou reclamar que não se fazem comédias românticas como antigamente (salvo exceções).
Seria satisfatório encerrar com uma reflexão com a qual todos pudessem instantaneamente se identificar. Aquele fim de crônica que toca o coração de quem está do outro lado e é capaz até mesmo de prover reflexões para serem feitas no decorrer da semana. Mas esse tipo de efeito não pode ser forçado, ainda mais quando se está escrevendo na beira do prazo, que é como sempre estou. Talvez com isso vocês possam se identificar. Ou com todo o resto à cima. Ou com nada, mas se esse for o caso, espero que ao menos tenha sido divertido. De qualquer forma, da próxima vez que sentir que sua alma foi dissecada e que os confins do seu cérebro foram descobertos ao ler um textão, lembre-se: você não está sozinho.
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Primeiro, medo de virar o Didi kkkk
Segunda,"Você não está sozinho" é aquela frase que crua, sem delongas, da conta de tanto ❤